Uma entrevista com Anton Brummelhuis, Diretor Sénior de Sustentabilidade, Philips lighting
Há uma revolução silenciosa em curso. Os modelos de negócios estão a mudar lentamente à medida que as indústrias se afastam do modelo linear tradicional de produção "colher, fabricar, deitar fora" e optam por uma economia circular - uma que é inerentemente restauradora. Isso significa que visa manter os produtos e materiais na sua maior utilidade e valor. Algumas das principais empresas mundiais, incluindo Hewlett Packard, H&M, Cisco e Unilever, estão a mudar para este modelo de produção mais sustentável. E, claro, a indústria de iluminação não está imune a estas mudanças. Nesta entrevista, Anton explicará como este conceito está a afetar empresas como a Philips lighting.
Quebrar o ciclo vicioso com iluminação circular
O que é exatamente a iluminação circular?
A iluminação circular é a abordagem da economia circular traduzida para os nossos negócios na Philips lighting. A melhor forma de implementar esta mudança é através de uma combinação de produtos/serviços, orquestrada pelo produtor. Imagine que é um cliente e pretende atualizar o seu sistema de iluminação. Isso pode ser um plano dispendioso porque é necessário comprar novos equipamentos – dinheiro que poderá preferir gastar em atividades centrais para o negócio. Mas um modelo de negócios de iluminação circular adota uma estratégia diferente. O cliente simplesmente compra a luz de que precisa e permite que terceiros tratem de todos os outros detalhes, tais como instalação do equipamento (que o cliente simplesmente aluga) e assistência e garantia de desempenho por um período de tempo contratado.
Pretendemos evitar o envio de resíduos para aterros adotando este novo modelo de negócios circular. Se analisar a atual indústria de iluminação na Europa Ocidental, apenas 10% das luminárias descartadas são oficialmente recolhidas e registadas. Então, o que acontece com os outros 90%? Não é totalmente conhecido. Especialistas do setor de iluminação estimam que cerca de 75% dos 90% restantes vão para a área económica indefinida dos sucateiros e os outros 15% vão para aterros. Isso é algo que queremos mudar.
Quais são os principais benefícios da iluminação circular?
A iluminação circular aborda o problema do desperdício de duas formas principais: primeiro, aplicamos luminárias especificamente concebidas que podem ser usadas e reutilizadas – ou seja, têm uma vida útil muito maior do que as luminárias tradicionais – e segundo, como parte do nosso serviço, assumimos a responsabilidade pelos materiais no final do contrato. Faremos o possível para reaproveitar 100% do hardware recolhido. A iluminação circular é muito mais sustentável, reduzindo drasticamente o que vai para os aterros. No entanto, a situação ideal quando o período de contrato de um cliente expira é alargá-lo por um novo período. Fazemos isso fornecendo novas funcionalidades ou atualizando o sistema de iluminação para responder às necessidades em evolução do cliente.
É também uma solução energeticamente eficiente porque o cliente pode beneficiar imediatamente da poupança de custos proporcionada pelos sistemas LED conectados sem um investimento inicial. Este conceito também é mais eficiente a nível dos materiais – não há necessidade de retirar luminárias e colocar novas. E, ainda assim, os clientes podem beneficiar das mais recentes inovações. Muitos clientes hesitam em investir em iluminação porque também estão preocupados com a rapidez com que o setor está a inovar. Mas uma solução de iluminação circular fornece iluminação preparada para o futuro. Além disso, no final do contrato, o hardware ainda tem valor. Desvaloriza muito menos do que as luminárias tradicionais.
Por último, comprar a sua iluminação, e apenas a sua iluminação, simplifica bastante as operações para um cliente. Um produtor como a Philips lighting responsabiliza-se por tudo – serviços profissionais como auditoria da iluminação, instalação, gestão de peças sobresselentes, manutenção da qualidade da luz e, como mencionei antes, também a gestão do que acontece com os produtos no final do contrato.
Eu sei que a Philips lighting ajudou o Aeroporto de Schiphol no projeto de iluminação circular. Pode falar mais sobre isso?
Este foi realmente um projeto que puxou pela imaginação das pessoas. O objetivo de Schiphol é ser o aeroporto mais sustentável do mundo. Pretendem ter zero resíduos em aterros até 2030. Estão a adotar os princípios da economia circular e gostam de fazer experiências inovadoras com empresas líderes.
Pediram a nossa ajuda para atualizar a iluminação do lounge do terminal 2, uma área do aeroporto com iluminação 24 horas por dia, 7 dias por semana. Fornecer luz como um serviço significa que Schiphol paga apenas pela luz que utiliza, enquanto que a Philips lighting e a Engie [anteriormente Cofely, um fornecedor de serviços técnicos] serão conjuntamente responsáveis pelo desempenho e durabilidade do sistema e, em última análise, pela sua reutilização e reciclagem em fim de vida. E os novos LEDs já estão a ajudar Schiphol a poupar energia, proporcionando uma redução de 50% no consumo de eletricidade em relação aos sistemas de iluminação convencionais.
De que forma o design circular desempenha um papel na economia circular?
O que vimos é que muitas luminárias LED se tornaram numa solução para toda a vida. Por outras palavras, tudo estava colado de forma permanente. O design circular significa que as luminárias são construídas de forma que cumpram cinco critérios:
1) Os materiais podem ser reciclados de volta para materiais puros ou para cadeias de resíduos existentes
2) Podem ser facilmente decompostas - são otimizadas para desmontagem
3) São modulares por natureza. Isto significa que consistem em blocos de construção, como Legos
4) São fáceis de reparar e manter
5) O mais importante, tem opções de atualização para aumentar o desempenho ou obter novas funcionalidades para a luminária
Como irá a iluminação circula alterar a cadeia de valor tradicional? Quais serão os papéis de todos os intervenientes no futuro?
Mais do que nunca, vemos que não pode ser apenas um país ou uma empresa a ter a capacidade de gerir a transição para uma economia circular. É tudo uma questão de colaboração. Colaborámos com várias empresas para trazer à luz o projeto em Schiphol.
Acho que produtores como a Philips lighting terão um papel mais proeminente. A razão para tal é o facto dos produtores terem máxima influência sobre os designs. Também são provavelmente os melhores clientes de equipamentos reaproveitados.
Para clientes que adotem a abordagem de iluminação circular – o que pode acontecer no final do contrato?
É aí que entra o conceito de logística inversa. Após o contrato de cinco anos connosco, têm a opção de o alargar. O que significa que faremos as atualizações da iluminação de que possam precisar. A opção mais sustentável seria simplesmente atualizar a iluminação – o chamado serviço de produto combinado. Isto significaria que poderíamos evitar o custo de desmontagem e instalação de luminárias totalmente novas.
No entanto, poderiam pedir novas luminárias, o que significa que entraríamos no que chamamos de ciclo de renovação. Após recebermos a luminária de volta, tentaríamos recuperá-la para que ficasse como nova e, em seguida, revendê-la. Em alternativa, poderíamos desmontar a luminária, retirar as peças e, em seguida, reutilizá-las. A opção final - e a que pretendemos evitar - é reciclar a luminária. Inevitavelmente, se for necessário reciclar, uma pequena percentagem de materiais impuros poderá acabar num aterro, o que torna esta opção menos sustentável.
Como irá a iluminação circular alterar os modelos de negócio atuais?
A transição para uma economia circular será longa. Além disso, é irreversível. Assim que mudarmos para esse tipo de economia, nunca mais voltaremos atrás. Na maioria das vezes, as pessoas mantêm os seus hábitos. A beleza deste modelo é que é o "hábito" ideal para se manter. Os clientes podem beneficiar do melhor desempenho de iluminação pelo menor custo, praticamente sem problemas, ao mesmo tempo em que aplicam a solução mais sustentável.
Iniciámos a transição há quatro anos e pretendemos oferecer os melhores benefícios aos nossos clientes, ao meio ambiente e a nós mesmos. Eu diria que demorará mais 35 ou 40 anos até que todos tenhamos mudado para uma economia perfeitamente circular. Enquanto isso, a Philips lighting está na vanguarda a impulsionar todo o setor da iluminação para uma economia circular.